- O que aconteceu? Você e a Fernanda terminaram?
- Terminamos? Nós nem começamos, Pati.
- Até parece. Você gosta dela que eu sei, Breno.
- Gosto nada.
- Gosta sim.
- Pati, para! Você já me fez ficar com uma garota que eu nem gostava... Agora que eu disse pra ela que não quero mais, vê se para de colocar pilha onde não tem nada.
- Tem sim. Tá apaixonadinho negando as evidências.
- To apaixonado mesmo.
- Viu? Sabia.
- Mas é por outra pessoa.
Soco no estômago. Por essa você não esperava Patrícia.
- Hm. Sei.
- Você sabe mesmo - disse, olhando fundo nos meus olhos. Odeio o fato de que ele seja capaz de ler minha mente, ou pelo menos, parecer capaz de ler minha mente.
Desviei. Ele podia estar falando de outra pessoa, né. Tinha que ser outra pessoa. Melhor desconversar.
- Tá bom. Então me conta, o que o Marcelo te contou hoje mais cedo? Fiquei curiosa.
- Patrícia, para com isso.
- Com o que?
- Eu te conheço.
- Ahn?
- Para de fugir do assunto.
- Eu? Fugindo? Que assunto?
Ele deu aquele sorriso. Meu Deus, aquele sorriso... Fiquei tanto tempo em êxtase com seu sorriso que não percebi que ele se aproximara de mim e agora falava com o rosto colado no meu.
- Do nosso assunto.
- Nosso? Quero dizer.. Do que a gente tava falando mesmo?
- Da pessoa que eu gosto.
- Ah, é. E de quem você gosta? Não vale dizer da sua mãe.
- Quer saber mesmo?
E se ele dissesse tudo aquilo que eu sonhava todas as noites? Como iria reagir? O que diria? Passei tanto tempo negando a existência daquele sentimento, que admitir - assim de repente - não me parecia o certo.
- Não. Deixa pra lá.
- Agora eu quero que você saiba - E se aproximou ainda mais. Nossas bocas estavam tão próximas que se eu movesse um milimetro para frente, se encostavam.
Por que comigo? Por que? Ele era meu amigo, o meu melhor amigo. Eu não podia fazer isso com ele. Já sei. Vou dizer que não gosto dele, nunca gostei. Resolvido! Daí saio andando e no outro dia finjo que nada aconteceu, como sempre faço. Ele nem vai ligar. Sou demais.
- Então fala... - Não pude acreditar na forma com que minha voz saiu. Como se pedisse por algo que esperava há tempos. Sua fraca.
- Patrícia, sempre foi você.
- Breno...
- Shiu, fica quieta, você fala demais. Hora de me escutar.
- Mas Breno..
- Patrícia, todas às vezes em que me relacionei com alguém era porque queria preencher o buraco que tenho aqui dentro de mim. E sabe o que acontecia? Eu saia com garotas lindas, maravilhosas, inteligentes e que tinham tudo para serem as mulheres da vida de qualquer cara. Mas elas não chegavam perto de ser qualquer coisa da minha.
- Ahn?
- Eu sempre me pego comparando elas a você. É isso. Fazer o que se me apaixonei por uma destrambelhada, boba, que adora fazer palhaçada e que não se importa a mínima com o que pensam dela?
- Breno, eu não sou o melhor pra você. Sabe disso.
- Sei, sei sim. Mas quem disse que eu quero o melhor? Eu quero você.
- Breno... - Minhas pernas começaram a bambear e meu estômago, se revirar. Isso não podia estar acontecendo comigo. Logo co-mi-go! Sempre fugi do amor. Por que diabos ele veio atrás de mim?
- Patrícia... Não fala nada.
- Eu preciso falar.
- Se você não corresponde, tudo bem..
- Breno..
- Sério, tudo bem. Podemos continuar a ser amigos. É só fingir que esse dia nunca aconteceu.
- Breno!
- Vou virar uma tequila que fica mais fácil esquecer..
- Breno, eu amo você.
- Daí.. Que? Pati?
- Eu te amo. É isso mesmo. E não me pede pra falar de novo que você sabe que eu não gosto de falar essas coisas em voz alta.
Patrícia sua idiota. Você não ia negar tudo? Não ia sair andando e esquecer isso que chamam de amor?
- Eu sempre te amei, idiota. - E me beijou.
Esquece tudo que eu disse. Acho que dizer a verdade foi a melhor decisão da minha vida. Tá, tudo bem, ele é meu melhor amigo e eu tenho grandes chances de estragar uma linda amizade. Mas e daí? É como se de repente nada mais importasse. Só eu, ele e essa chama ardente que sinto toda vez que ele me toca.
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